Nova Friburgo, 2017
O
clima de guerra entre os Estados Unidos e a China aumentou a cada dia dos
últimos 5 anos. Milhões de pessoas formam mortas e cidades começaram a ter o
número de residentes diminuído. Carlos, agora com 40 anos, iniciando sua
passagem para uma vida de cabelos grisalhos, ainda estava em casa, com sua
esposa e filho.
O
pequeno Rogério cresceu e agora tem 15 anos, com seus cabelos lisos, curtos,
jogados pro lado e castanhos, nem parecia mais com aquele garoto de 10 anos,
quando a guerra começou.
-
Pai, fiz merda! – Gritou Rogério da sala.
- O
que você fez?!
-
Caralho, Rogério, você vai pagar!!!
- O
que aconteceu, querido? – Elídia apareceu na porta.
-
Olha o que seu filho fez!
E
ela viu sua TV, na qual fora comprado com muito esforço, no chão com os
estilhaços espalhados por toda a sala.
-
Como você fez isso, filho?
-
Estava procurando a chave do lado da TV, esbarrei e ela caiu, desculpa, mãe.
- Tá
bem, meu amor.
- Tá
bem nada, agora eu quero ver meu jornal e não posso, você vai pagar muleque!
- Já
sei, pai, já sei!
E
Rogério foi para seu quarto, pegou toda a sua economia do cofre que dava algo
em torno de 700 reais e deu ao pai.
-
Toma, compra outra TV, estava juntando mas tudo bem...
-
Não adianta apelo emocional, vou pegar mesmo.
- E
você vai comigo!
Droga,
pensou Rogério, talvez ele falasse: Não filho, eu pago, mas não foi o que
aconteceu. Os dois então saíram para comprar uma TV nova. Desceram as escadas
do apartamento do 3º andar e entraram no Fox vinho, modelo 2012.
-
Pai, já está na hora de trocar esse carro, hein?
-
Filho, já está na hora de você arrumar um emprego, hein?
-
Vamos só comprar a TV e pronto, vê se você não faz merda dessa vez.
Rogério
deu um sorriso meia boca e virou para frente, insatisfeito em ter perdido todo
o seu dinheiro que juntava para comprar um celular novo. Era uma manhã nublada,
mas sem chuvas, só nuvens pesadas. Foram até a loja mais próxima que ainda
estava aberta, estacionaram e saíram.
Carlos
estava de bermudão e chinelo, como estava em casa. Entrou meio receoso na loja
com seu ar condicionado ligado, congelando o local todo.
-
Pois não, posso ajuda-los? – Disse o vendedor muito simpático, com muito gel no
cabelo.
-
Ah, eu preciso de uma TV, meu filho aqui fez o favor de quebrar, ele que vai
pagar.
-
Ei, pai! – E Rogério morria de vergonha por dentro, pensando no que o vendedor
devia estar imaginando dele.
-
Temos a TV perfeita para vocês.
O
vendedor então os levou até um corredor cheio de TVs, todas passando o mesmo filme.
-
Então, essa daqui está 2.400 reais, barato não?
- Amigo,
quanto você ganha nessa loja? Duvido que pague essa TV. Quero uma barata!
Ele
sorriu, como todo bom vendedor e mostrou outros modelos até mostrar a mesma TV
que estava na casa de Rogério.
- Aí,
pai. É essa aí. A mesma lá de casa.
-
Então, amigo, quanto é essa?
-
Essa? Ah, 999 reais. Várias funções, ótimas cores, gostou?
-
1000 reais?! Na época eu comprei por 600!!!
-
Sabe como é que é né? Com essa guerra, os produtos estão chegando mais caros,
por causa do pouco investimento em fábricas e até mesmo o problema na
importação, não somos culpados por isso, sentimos muito mesmo, até tentamos
vender com o preço mais baixo, mas é o máximo que podemos fazer
-
Pago 700 e nada mais!
-
Senhor, não tem como.
-
Então vamos embora Rogério, você vai ter que dar seu jeito pra comprar uma TV.
Eles
saíram da loja. Visivelmente Carlos estava revoltado. Como uma TV que ele
comprara em 2011 por 600 reais ainda exista no mercado e muito mais cara que
antigamente? É, essa guerra não está só mexendo com as vidas dos estadunidenses
ou dos chineses, está abalando o mundo como um todo.
-
Vamos pra casa, filho.
Os
dois voltaram pra casa e Elídia já os estava esperando com o almoço, mas ficou
decepcionada ao saber.
-
Não compraram a TV porque?
-
Muito cara, depois seu filho compra uma boa pra gente né?
Rogério
ficou mudo.
-
Vou ficar sem minha novela hoje?
-
Vai pra casa de alguma amiga sua, amor.
-
Não, quero ver em casa.
-
Então manda seu filho comprar a TV agora.
-
Depois a gente vê isso, vamos todos almoçar.
E
enquanto Carlos ia se dirigindo ao banheiro para lavar suas mãos, seu celular
toca. Toque polifônico, daqueles em que se diz: não tenho paciência pra mudar
esse toque, então ficará como está.
-
Alô.
-
Alô, Capitão Carlos?
-
Sim, ele mesmo.
-
Precisamos de você no batalhão.
-
Pera, quem é você?
-
Igor, seu novo superior.
-
Vou almoçar e passo aí.
-
Não, precisamos de você agora.
-
Então tá... Quer dizer, sim senhor.
-
Obrigado.
Carlos
desligou o celular e pegou as chaves do carro.
- O
que foi, meu bem?
-
Parece que tenho um novo superior e ele me quer no batalhão agora.
Elídia
já havia fechado a cara. Ela sabia que quando ligavam assim para Carlos era
para manda-lo para alguma missão. 6 meses, 1 ano, 2, nunca se sabe quanto tempo
demoraria, mas ela ficava sempre preocupada.
-
Volta para o jantar?
-
Não sei, amor...
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